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História da Saúde Pública no Brasil

A chegada dos europeus

 

Antes da chegada dos portugueses no Brasil, os povos originários já padeciam de algumas doenças, no entanto, os problemas começaram a se agravar a partir de 1500, quando os europeus trouxeram novos patógenos dos quais os nativos nunca tiveram contato antes.

 

No período de 1500 até 1530 o Brasil vivia o ciclo econômico do pau Brasil a partir da mão de obra indígena. Em 1530, o militar português Martin Afonso liderou a primeira expedição de tentativa oficial de colonização no Brasil dando início ao ciclo econômico da cana-de-açúcar. Em 1534 os povos originários passaram a ser escravizados e só foram libertados em 1755. Em 1539 os primeiros navios negreiros aportaram no Brasil, dando início à escravidão dos povos africanos, que trabalhavam nos engenhos de açúcar no nordeste e posteriormente na mineração no sudeste. As condições de saúde da população negra eram muito precárias. Os problemas já começavam com as péssimas condições das embarcações: um a cada cinco escravos morria durante o trajeto.

 

Com a chegada dos africanos ao Brasil, se estabelecia por aqui um novo grupo social vulnerável. Durante todo o período colonial e imperial, eles eram mal alimentados e padeciam de muitas doenças. No contexto de violência e superexploração, a ancilostomíase e outras verminoses, as doenças carenciais como o escorbuto e a tuberculose eram frequentes. A saúde dos escravizados era alvo de atenção apenas quando a sua morte significava prejuízo econômico para os senhores. No auge da produção nas minas, em meados do século XVIII, o tempo estimado de vida dos escravizados era de apenas sete anos. Nos principais centros urbanos como Olinda, Recife, Salvador e Rio de Janeiro, embora o trabalho fosse menos pesado, muitos escravos trabalhavam até a exaustão. 

 

Ainda nos dias de hoje, a população negra está mais exposta aos riscos e muitas vezes sofrem racismo institucional no atendimento em serviços de saúde. A prática do racismo institucional na área da saúde afeta sobretudo as populações negras e indígenas. Estudos nacionais e internacionais evidenciam que existe  desigualdade entre a saúde e longevidade de negros e indígenas no Brasil, quando comparados aos brancos nos mesmos parâmetros.

 

 

Boutique des barbiers, Debret, Rio de Janeiro 1835. Na imagem lê-se “barbeiro, cabeleireiro, sangrador, dentista, e deitão as bixas”. Na época, todas estas atividades eram executadas pelos barbeiros, sendo o sangrador quem performava as sangrias e “deitão as bixas” refere-se a remoção de vermes, principalmente os causadores da ascaridíase e ancilostomose.

 

Do Império à Primeira República, o surgimento da Saúde Pública 

 

A chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808 e a transformação do país em Reino Unido a Portugal inauguraram uma nova conjuntura por aqui. Com as profundas transformações na colônia e a necessidade da abertura comercial e modernização, até então reprimidos pelo domínio colonial, e a urgência política do período, fez com que o Brasil passasse a ter mais contato com outras nações européias, sobretudo por causa do comércio de escravos e mercadorias.

 

Em 7 de setembro de 1822, com a independência do Brasil, e posteriormente com a declaração do império, em 12 de outubro de 1822, o país que então se chamava “Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves”, tornou-se oficialmente “Império do Brasil”.

 

Depois da independência, surgiram as primeiras instituições médicas por aqui, em 1829 foi criada a Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro. Em 1832, os cursos médicos cirúrgicos que existiam na Bahia e no Rio de Janeiro, foram transformados em faculdades de medicina e começaram a formar médicos, farmacêuticos e parteiras. A Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro foi transformada em Academia Imperial de Medicina em 1835. Estas foram as reformas e mudanças que deram início oficial à medicina em território brasileiro.

 

Sede da antiga Academia Imperial de Medicina, Campo de Santana, Rio de Janeiro, entre 1861 e 1874. In: CARNEIRO, Glauco. Um compromisso com a esperança: história da Sociedade Brasileira de Pediatria, 1910/2000. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 2000.

 

Os problemas continuam…

 

As reformas e mudanças realizadas no império marcaram os primeiros passos da medicina no Brasil e embora tenham servido de base para a formação das primeiras estruturas de saúde e práticas médicas, essas iniciativas não conseguiram melhorar as condições de saúde da população.

 

As transformações democráticas e socioeconômicas do século XIX trouxeram grandes impactos na área da saúde, nessa época surgiram novas doenças, a maioria delas relacionada à alimentação inadequada e a condição de vida precária. Tanto no período colonial quanto no Império foram as infecções gastrointestinais que mais mataram a população. As doenças transmissíveis passaram a ser mais frequentes, como a sífilis e a tuberculose. A varíola foi trazida pelos europeus no século XVI, sendo as primeiras vítimas da doença os povos originários, que não tinham imunidade ao agente patogênico, a doença foi responsável pela dizimação de diversos grupos indígenas no país. A varíola, , enfermidade causada por um vírus que assombrava a humanidade há século, foi a primeira doença a ser alvo de uma ação pública específica no Brasil.

 

Em 1804 os comerciantes baianos liderados pelo Marquês de Barbacena pagaram a ida de escravos à Europa para serem inoculados com a doença numa tentativa de evitar que ela se desenvolvesse. Princípio que hoje conhecemos como vacina.

 

Em 1808 com a vinda da família real, a vacina antivariólica ganhou impulso, acredita-se que isso se deu ao fato de Dom João ter perdido dois irmãos e um filho de varíola. Em 1811 foi criada a Junta Vacínica da Corte com o objetivo de implantar a vacinação no Brasil e em 1831 ela passa a se chamar Junta Central de Vacinação.

 

Numa época  em que ainda existia muita resistência à aplicação de vacina, ela foi mais utilizada nos escravos, porque seus senhores estavam preocupados em perdê-los pelo prejuízo econômico.

 

Charge inglesa de 1802 anti-vacina contra varíola insinuando que os imunizados virariam vacas.

 

Outra doença trazida pelos europeus foi a febre amarela que chegou ao Brasil no século XVII, provavelmente trazida das Antilhas. Essa doença provocou um grande número de mortes, sobretudo no período colonial. Em 1849 ela voltou à Bahia, de onde se alastrou para diversas regiões litorâneas, se transformando no maior pesadelo dos governantes, tanto pelo número de mortes quanto pelo estigma em relação aos portos do império. Em 1865, Olinda e Pernambuco foram o epicentro  da epidemia de febre amarela. 

A cólera também foi trazida do Sudeste Asiático pelos europeus, propagando-se pelas rotas de comércio e nos deslocamentos populacionais. A primeira epidemia por aqui se deu na província do Grão-Pará em 1855, em pouco tempo atingiu o nordeste e a capital do Império. A cólera já era conhecida pelos médicos europeus em virtude dos problemas que vinha causando em diversos países. Para evitar a propagação da doença, era realizado o isolamento dos enfermos e quarentena nos navios.

 

Dica de Leitura: Lágrimas de Sangue: a Saúde dos Escravos no Brasil da época de Palmares à Abolição – do historiador Alisson Eugênio.

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